“A maior parte das tecnologias, das metodologias
que foram desenvolvidas para a tecnologia digital, aliás, para as tecnologias
de uma forma geral [...] foram desenvolvidas em países ricos. Países [...] que
estão na Europa, no sul dos Estados Unidos. Países, geralmente, que estão em
clima temperado, ou seja, frio e seco. Nós temos no Brasil um clima totalmente
diferenciado. Nós estamos em um país tropical e subtropical, de clima quente e
úmido. Ou seja, nós importamos tecnologia que foi desenvolvida para um clima
totalmente diferente da gente e aplicamos essa tecnologia sem a devida
reflexão. [...] Uma das coisas que a preservação digital em modo físico tem
feito é estudar esses novos ambientes para que eles possam gerar metodologias,
tratamentos, que sejam aplicáveis a nossa realidade tropical. [...] Será que a
gente preserva corretamente um CD-ROM da mesma forma, no Brasil, do que se
preserva na Europa? [...] Lógico que não. [...] Nós temos, na verdade, um
grande clima de cultura para fungos, bactérias, para agentes biodegradadores.
Nós não temos políticas de preservação no que diz respeito ao manuseio desses
materiais nem ao fabrico de certos materiais que são utilizados para o suporte dessa
tecnologia. [...]
Além disso, a gente tem outras preocupações que são
mais do ponto de vista político especificamente. Como o Estado vê a ação de
preservar? O que é que tem que ser preservado e como é que tem que ser
preservado. Nós temos uma coisa que vai muito bem, que é a segurança da
informação. [...] Que dado tem que ser preservado em função de sigilo, não em
função de memória? Então a pesquisa, de modo geral, ela se situa nesses campos
onde os problemas são mais evidentes”.
Link da entrevista completa em https://www.youtube.com/watch?v=WITR9AaNVtA. Acesso em 16 de janeiro de 2013, às 13:20.
Para saber mais sobre o entrevistado, acessar: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4780167T3. Acesso em 16 de janeiro de 2013, às 13:33
De acordo com Tomaz e Soares (2004). Somam-se a
esses problemas fundamentais da preservação digital, outras dificuldades de
ordem técnica, política, econômica e social, dentre as quais
destacamos:
* risco de agravamento do problema da exclusão
social (p.ex., INTO..., 1997);
* dificuldade de definição de estratégias e custos
associados às atividades de preservação digital (p.ex. CONWAY, 1996, TASK FORCE
ON THE ARCHIVING OF DIGITAL INFORMATION, 1996; HEDSTROM, 1997/1998; ROTHENBERG,
1999);
* agravamento do impacto ambiental com o fenômeno
do “lixo eletrônico” (p.ex., ENTULHO..., 2000);
* falta de preparo de gestores de acervos e
especialistas de preservação nas questões ligadas ao ambiente da tecnologia da
informação (p.ex. ROUSSEAU & COUTURE, 1998);
* mercado altamente competitivo da tecnologia da
informação levando a ciclos de renovação de tecnologia a cada 3 a 5 anos (p.ex.
HEDSTROM, 1997/1998; BRAND, 1999);
* falta de linguagem própria nas diversas áreas do
conhecimento para descrever os novos relacionamentos e tipos de documentos
(p.ex. BELLOTTO, 1991; JARDIM, 1992);
* dificuldade para estabelecer as fronteiras dos
documentos de natureza multimídia e hipertextual em redes distribuídas de longa
distância (p.ex., INTO..., 1997);
* no contexto digital a distinção entre documento
original e cópia não é clara (p.ex. DURANTI, 2002);
* aumento da facilidade de uso e oferta de recursos
da tecnologia da informação, acompanhado de aumento equivalente da complexidade
e dependência tecnológica dos objetos digitais subjacentes (p.ex. INGWERSEN,
1995; TASK FORCE ON THE ARCHIVING OF DIGITAL INFORMATION, 1996);
* aumento exponencial da capacidade de
armazenamento, acompanhado de redução equivalente da expectativa de vida dos
meios de armazenamento (p.ex., CONWAY, 1996,);
* abandono de fontes de informação digital quando
as instituições deixam ou perdem o interesse pelos negócios (p.ex. TASK FORCE
ON THE ARCHIVING OF DIGITAL INFORMATION, 1996; LUSENET, 2002,);
* a tecnologia digital reformula antigos papéis e
traz novos atores para o sistema sócio-econômico da informação (p.ex., CONWAY,
1996; TASK FORCE ON THE ARCHIVING OF DIGITAL INFORMATION, 1996; HEDSTROM,
1997/1998);
* ausência de produtos de prateleira que considerem
os requisitos de preservação por longo prazo (p.ex., BULLOCK, 1999);
* os atuais direitos de propriedade
intelectual/copyright podem interferir na capacidade de preservar objetos
digitais através de cópia sistemática (p.ex., BULLOCK, 1999);
* ênfase na geração e/ou aquisição de material
digital numa era de redução de recursos, ao invés de manter a preservação e o
acesso aos acervos eletrônicos existentes (p.ex., BULLOCK, 1999).
“Durante algum tempo acreditava-se (por ignorância, interesses ou
negligência) que a documentação digital estaria livre de problemas tradicionais
relacionados ao acondicionamento, degradação do suporte, obsolescência, falta
de confiabilidade e espaço de armazenamento, porém o tempo nos ensinou que a
tecnologia por si só não soluciona todos esses problemas, pelo contrário,
inclui novos problemas, os quais dependem diretamente da interferência humana e
de políticas de preservação digital para serem solucionados.” (Innarelli, 2011,
p. 4)
“Temos muito mais a discutir sobre documento digital antes de chegarmos
a qualquer fórmula ou resultado, porém, é assustador imaginar que enquanto discutimos,
muitos documentos foram e estão sendo perdidos” Innarelli (2003)
Referências:
INNARELLI, H.C. Preservação digital: a influência da gestão dos
documentos digitais na preservação da informação e da cultura. Revista
Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação,Campinas, v.8, n.
2, p. 75, jan./jun. 2011.
Innarelli, H. C., Sollero,
P. Reliability and durability of CD-ROM and CD-R medias: its fragility related
to digital preservation. In: 7th World Multiconference on Systemics,
Cybernetics and Informatics. Orlando: IIIS, 2003.
THOMAZ, Kátia. P; Soares, Antônio José. A preservação digital e o modelo
de referência Open Archival Information System (OAIS). DataGamazero – Revista
de Ciência da Informação – v.5 n. 1 fev/04. Disponível em: http://www.dgz.org.br/fev04/Art_01.htm Acesso em 15 de janeiro, às 15:23.
Comentário
Inúmeras estratégias foram criadas para sanar os problemas da
preservação digital, mas é preciso ter consenso na sua aplicabilidade, pois há
uma grande defasagem de estudos científicos comprobatórios e uma política
de preservação que envolva todos os produtos e criações característicos da web
e integrado a outros sistemas internacionais.
___________________________________________________
Garantir meios de acesso à informação digital às
futuras gerações, salvar nossa memória em meio digital.
Para Duranti (2002) este momento trás novos
desafios e renova a profissão, "quando percebi que os documentos digitais
se tornaram uma realidade, achei que fosse o final da profissão do
Arquivista..., mas o que percebi foi que ao invés de perder espaço, o a
profissão do Arquivista foi valorizada e ganhou um novo ´status".
Mediante essas problemáticas, A carta para a
Preservação do Patrimônio Arquivístico Digital, publicada pela CTDE/CONARQ e
UNESCO em 2004 , expressa algumas considerações a respeito dos documentos
digitais, e a emergência dos profissionais da ciência da informação estarem
atualizados de acordo com os avanços tecnológicos. Tais medidas garantem ao documento
arquivístico sua credibilidade, uma vez que estes registram informações
culturais, históricas, científicas, técnicas, econômicas e administrativas.
“Considerando que este patrimônio arquivístico
digital se encontra em perigo de desaparecimento e de falta de confiabilidade,
e que sua preservação em benefício das gerações atuais e futuras é uma
preocupação urgente no mundo inteiro.”
“Entretanto, como a informação em formato digital é
extremamente suscetível à degradação física e à obsolescência tecnológica – de
hardware, software e formatos –,essas novas facilidades trazem conseqüências e
desafios importantes para assegurar sua integridade e acessibilidade. A
preservação dos documentos arquivísticos digitais requer ações arquivísticas, a
serem incorporadas em todo o seu ciclo de vida, antes mesmo de terem sido
criados, incluindo as etapas de planejamento e concepção de sistemas
eletrônicos, a fim de que não haja perda nem adulteração dos registros. Somente
desta forma se garantirá que esses documentos permaneçam disponíveis,
recuperáveis e compreensíveis pelo tempo que se fizer necessário.”
http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/Media/publicacoes/cartapreservpatrimarqdigitalconarq2004.pdf. Acesso em 16 de janeiro de 2013, às 16:22
Obsolescência das mídias |
Obsolescência dos softwares/suportes. http://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/EdbertoFerneda/ged-10.pdf. Acesso em 16 de janeiro de 2013, às 16:22. |